Caminhando-me, cuidando-me...

abril 24, 2022Prof. Dr. Joceval Bitencourt

Caminhando-me, cuidando-me. Assim levei a minha vida, assim espero concluí-la. Segundo Kant, “[...] toda filosofia é teórica ou prática. Teórica é a regra do conhecimento. A prática é a regra da conduta em vista do livre-arbítrio”. Sempre busquei ser vigilante em minhas ações éticas, sem nenhum moralismo, buscando conduzir as minhas ações nos limites do bem comum. Tenho que reconhecer, fui um pouco briguento, mas, quem me conhece de perto sabe, nunca, em nenhum momento, briguei em defesas dos meus próprios interesses. Sempre que estive enfezado, deixando um tal estado de cólera transparecer em público, não estava visando um bem particular, visava um Bem comum: a Universidade, ou, como diz Platão, a Cidade. A Cidade, torna-se a bitola com a qual devemos medir a extensão do Bem que buscamos. Quanto maior for a sua extensão, mais próximo do Bem ideal ele se encontra. Vivemos tempos em que os valores se tornam relativos. Na política, uma ética sofistica assustadora. A verdade perdeu a sua morada. O que importa não é mais o conhecimento da verdade, mais convencer a assembleia que a nossa “doxa” é mais verdadeira do que a “doxa” do nosso opositor. Quando o nosso opositor mudar de lado, estiver do nosso lado, construiremos um novo discurso indicando que a nossa mudança se justifica porque ela visa um projeto político MAIOR. Não imposta a cor da bandeira que tremula em seus estandartes, todos se comportam como messias que tem a missão divina de conduzir o povo à terra prometida. “Ó Pátria amada, idolatrada, Salve! Salve!”. Tenho vertigem quando ouço esses falsos profetas se anunciando como salvador da cidade. Não é fácil escolher ser livre, pensar e agir, sem torna-se servo de um senhor, um partido uma igreja. Mas, negar essa possibilidade, é, ao mesmo tempo, negar-se como homem livre, capaz de conduzir-se nessa vida sendo senhor do seu livre-arbítrio. “[...] as ações que dependem desse livre-arbítrio são as únicas pelas quais podemos com razão ser louvador ou censurados, e ele nos torna de alguma forma semelhantes a Deus ao fazer-nos senhores de nós mesmos...” (Descartes – As paixões da alma). Nos últimos dias, ao concluir algumas caminhadas, tenho aproveitado para fazer uma avaliação de como me sinto com o resultado dos passos dados. Sinto-me feliz em ter combatido o bom combate, sem ter exposto a minha alma nos mercados de vendas e trocas, de não ter tutelado a minha razão a nenhum senhor, não ter deixado que colocassem cera nos meus ouvidos, fazendo de mim um mero tripulante que conduz a nau em direção ao gozo de Ulisses. Se as “sereias cantam”, não importa onde, não importa os riscos, é um direito meu escolher se quero ou não ouvir o seu canto. Guardo-me. Cuido-me. Vivo a pastorear as minhas próprias ideias. Não me nego a visitar terra alheias, mas, sempre soube que o lugar mais seguro é voltar para as terras que eu mesmo inventei. Nunca me deixei seduzir por falsos raios de luz que só adquirem vida própria na escuridão. Nego-me a habitar casas estranhas. Moro em minha própria casa. Não sei se conhecerei o que é a felicidade, mas, já sou profundamente grato em saber que não fui infeliz enquanto caminhei.
 

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