Mãe Meninazinha - Sacerdotisa do terreiro: Ilê Omolu Oxum

abril 20, 2023Prof. Dr. Joceval Bitencourt


Ainda na minha juventude, trabalhando no Mosteiro de São Bento da Bahia, sentia muito orgulho de ver a amizade entre Dom Timóteo Amoroso Anastácio, abade daquele Mosteiro, e a mais famosa sacerdotisa do candomblé da Bahia, Mãe Menininha do Gantois. Era uma amizade ecumênica, onde, cada um, com a sua religião, respeitava, sem nenhum preconceito, a religião do outro, compartilhando entre eles os afetos generosos da amizade. Ele sempre a visitava no Gantois; ela, por sua vez, o visitava no Mosteiro. O aniversário da sacerdotisa era sempre celebrado com uma missa no Mosteiro; Dom Timóteo fazia questão de ser o celebrante. No tempo de intolerância que vivemos, a amizade, entre essas duas almas de luz, tem muito a nos ensinar. Sou um ateu confesso, mas nunca me neguei a comer do pão de todas as religiões. Acabo acolhendo as religiões, não como um espaço de devoção, à qual devo prestar culto, mas como um território de cultura cuja convivência amplia o meu olhar sobre a beleza das diversidades das manifestações do espírito humano. Esse fim de semana, tive a alegria de conviver, por dois dias, com uma importante sacerdotisa da religião afro-brasileira: Mãe Meninazinha d’Oxum, que, apesar de ter toda a sua vida religiosa nas terras do Rio de Janeiro, São João do Meriti, onde comanda o terreiro Ilê Omolu Oxum, encontra, na mais alta linhagem do candomblé da Bahia, as suas raízes. De tanto encantar o Rio, o Rio a levou para a venida. No último carnaval, tornou-se enredo da escola de samba Unidos da Ponte. Só foram dois dias de convivência, mas o suficiente para saber que eu estava ao lado de um Ser do Bem, que faz da sua religião um lugar onde as pessoas possam encontrar conforto espiritual para a sua caminhada... Nada eu entendo da religião dela, sou um leigo, mas isso não foi motivo para ela não me acolher bem, mostrando que, para além de qualquer religião, o que importa é o respeito pela pessoa humana. Essa, de todas as religiões, é a melhor. Na despedida, beijei a sua mão, demostrando, do meu jeito, que estava pedindo a sua bênção.

 

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