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ENTRE AMORES E DORES (Eu e os Livros) - Autor: Joceval A. Bitencourt
junho 28, 2018Prof. Dr. Joceval Bitrencourt
ENTRE AMORES E DORES
(Eu e os Livros)
Entre as páginas de Servidão
Humana, as estrelas se recolheram. Após aquela longa noite de leitura, ao
amanhecer, uma certeza se fez presente em minha alma: eu gostava dos livros.
Fui tomado por uma sensação de transe, indicando-me que com os livros
conviveria por toda vida... Mas, a contingência do mundo real, impõe-nos seus
limites. Não basta gostar dos livros, é preciso criar as condições para que a
realidade atenda aos nossos desejos. “A ave de Minerva só alça voo ao
entardecer”, é o que diz Hegel. Primeiro vem a vida, levando-nos a buscar satisfazer
nossas necessidades imediatas no mundo, e
só mais tarde, atendidas essas primeiras demandas, o espírito alça voo à procura dos seus
delírios conceituais. Primeiro buscamos nos instalar no mundo, depois, buscamos
pensá-lo, tornar-nos o seu Senhor. Atender às
demandas da existência concreta, era mais urgente do que alimentar os devaneios
do espírito. Não era
fácil encontrar um trabalho que me possibilitasse, ao mesmo
tempo, atender às minhas necessidades básicas – comida e moradia – e continuar visitando o mundo dos livros. Eu tinha apenas vinte anos. Sem ninguém a
quem pudesse recorrer, era o único responsável por cuidar de mim. Como todo
jovem nessa idade, não tinha nenhuma experiência profissional. Uma triste
constatação: um candidato habilitado aos serviços gerais. Um tipo de trabalho
que, não exigindo habilidades técnicas
ou intelectuais, basta sua força física para executá-lo. As perspectivas não
eram das melhores. Um momento difícil. Sentia-me como Alice no país das Maravilhas, de Lewis Carrol, que, diante de uma
encruzilhada de caminhos, sem saber qual direção deveria tomar, pergunta ao
Gato: - “O senhor poderia me dizer, por favor, qual o caminho que devo tomar
para sair daqui? - Isso depende muito de para onde você quer ir, respondeu o
Gato”. Bem que a vida poderia nos oferecer as consequências de nossas escolhas,
antes mesmo que elas fossem feitas. Assim, não erraríamos, ou erraríamos bem menos. Mas, que
graça teria se assim o fosse ?!!! Seria como se jogássemos os dados da vida, já
sabendo, antecipadamente, o seu resultado. Naquela encruzilhada onde me
encontrava, qualquer caminho que tomasse determinaria – como determinou – o que
eu seria para o resto de minha vida. Aqui, ainda sem nenhuma filosofia,
descobri a solidão da escolha, a angústia em saber que ninguém poderia me
ajudar, ninguém poderia ser responsável pela escolha que iria fazer. Escolher
era, de fato, escolher-me. Estava sozinho.
Por caminhos que somente Sócrates pode explicar, encontrei um trabalho que me
possibilitou atender às demandas da vida
e aos delírios de um
sonhador.... é a roda do acaso nos conduzindo por caminhos nunca antes
imaginandos. Não acredito em acasos, mas as circunstâncias foram me favorecendo.
Sem que eu percebesse, estava eu trabalhando numa casa que sempre foi, ao longo
de sua história, uma cuidadora dos livros. Não poderia haver encontro mais
feliz: um jovem que começa a gostar dos livros, encontra um emprego numa casa
que gostava de cuidar dos livros. Estou falando do Mosteiro de São Bento da
Bahia, fundado em 1582, primeiro
Mosteiro construído fora da Europa. Aqui na Bahia, cuidadora de uma das mais
ricas bibliotecas particulares do Brasil, com um acervo de mais de 200 mil volumes,
aos quais, por mais de 430
anos, o público não teve acesso. Todo este rico acervo
encontrava-se à disposição dos meus delírios. Enquanto meu
corpo trabalhava, minha alma visitava aquele mundo encantado. Percorria o
labirinto de suas estantes de livros, como se estivesse visitando mundos, conhecendo pessoas, fazendo amigos. Não poderia ter encontrado melhor lugar para trabalhar. O
Mosteiro, além de cuidar dos seus afazeres religiosos, também era senhor de um
grande patrimônio material, o que exigia um corpo de funcionários para
administrá-lo. Encontrava-me entre eles. Minha função: porteiro, ou, para
alguns, recepcionista. Não tinha muito movimento, sobrava-me bastante tempo
livre. Era tempo de leituras. Ainda não lia filosofia, sequer sabia sua extensão
e os perigos que ela comportava. Só mais tarde, como desdobramento das leituras que
fui fazendo, foi se descortinando em minha alma o portal da filosofia, no alto do
qual estava escrito: “Ó vós que entrais, abandonai toda a esperança”. Nesse período, não tinha nenhum controle sobre as leituras, lia de tudo que despertasse minha
curiosidade ou que alguém me indicasse. Lia vorazmente. Comportava-me como um
faminto do saber, o livro transformou-se
no alimento de meu espírito. Era quase como um exercício espiritual, sem que eu
tivesse posse do saber, as leituras somavam-se, preparavam o meu espírito para
conquistar as terras áridas da filosofia vindoura. Meu ambiente de trabalho era
uma mesa, um telefone, e sempre um livro a nos fazer companhia. Ali encontrava-me:
guardião de uma porta majestosa, através
da qual acessava-se a um grande salão, com vários conjuntos de sofás, em jacarandá, com os
assentos em palhas trançadas. As belas
janelas, cada uma acompanhada de duas namoradeiras, encarregavam-se de banhar
de luz aquele ambiente. Tudo ali nos remetia à memória dos clássicos salões do
século XVIII. Do lado direito desse
grande salão, abria-se um largo e extenso corredor, todo decorado com obras de
artes, na maioria delas, retratos dos Abades que, desde sua fundação, foram se
sucedendo como Superiores da casa. Ao lado esquerdo desse corredor, enfileiravam-se
várias salas/escritórios onde funcionava a área administrativa do Mosteiro. Encontrava-me no primeiro piso, no térreo funcionava o Colégio São Bento. Sempre que podia, principalmente no
horário dos recreios, sentado naquelas
namoradeiras, contemplava as belas
jovens alunas que gargalhavam, sem se preocuparem com o amanhã. Ali, naquele canto, os dias
sucediam-se, enquanto esforçava-me para dar conta das demandas que a vida me impunha, sem perder o entusiasmo pelos delírios do espírito.
Naquela mesa, entre um atendimento e
outro, deliciava-me com a beleza de Gabriela, excitava-me com as luxúria dos personagens de Jorge Amado; visitava as Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos; diante das pedras que se punham no meio do meu caminho, perguntava-me: E agora José?, de Drummond; mergulhava no regionalismo de
Guimarães Rosa; participava, como se fosse eu um dos personagens, dos
dramas psicológicos de Machado de Assis; em Vidas Secas, de Graciliano Ramos, como um nordestino que sou, também vítima
da seca, reconhecia-me em Baleia, chorei a sua
morte, como se de um ente muito querido; em Morte e Vida Severina, com muita dor e
sofrimento, descobri a parte do latifúndio que a vida me reservava;
encantava-me o Realismo Fantástico de Cem Anos de
Solidão, de Gabriel Garcia Marques; li Sexo, Nexo e Plexo, de Henry Miller; tive a felicidade de ser iniciado nas dores da alma das obras de Dostoiévski, do qual li Crime e Castigo, Os irmãos Karamazov, Humilhados e Ofendidos, entre outros; conheci o perigo de se viver numa sociedade
vigiada pelo olhar de um Grande Irmão,
em 1984, de George Orwel; fui em busca dos bons ares da Montanha Mágica, descobri que, em busca da obra perfeita, você pode
fazer um pacto com o Diabo, cedendo-lhe a
alma, em troca da obra perfeita, como em
Doutor Fausto, de Thomans
Mann; fui Em Busca do Tempo Perdido,
de Proust; conheci a passagem do tempo que Hemann Hesse apresentou em Demian, Sidarta e Lobo da Estepe;
conheci e vivi a minha própria Metamorfose,
com Kafka; atravessei o portal do Inferno, da Divina Comédia, de Dante; o fatalismo das dores humanas, que as
tragédias de Sófocles e Shakespeare nos oferecem; conheci de
perto as dores dos amores impossíveis, de que nos falam os românticos, tão bem
iniciado Os Sofrimentos do jovem Werther,
de Goethe; a tristeza de constatar que o inferno são os outros, em Entre Quatro Paredes, de Sartre; a desilusão
em descobrir, depois de longa espera, que Godot não chegaria, ao ler de
Beckett; assustei-me ao saber que pode
haver tesão no crime, em Diário de um
Ladrão, de Jean Genet; nos poemas de Homero, torci para que os troianos não aceitassem o
presente dos gregos, na Ilíada, na Odisseia, acompanhei o retorno de Ulisses
para os braços de sua amada Penélope;
com Fernando Pessoa, e seus
heterônimos, descobri que o poeta é um fingidor, que finge tão completamente,
que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente, em Tabacaria, sentir-me dividido entre a lealdade que devo à
tabacaria, como coisa real por fora, e a sensação de que tudo é sonho, como
coisa real por dentro; como poderia me esquecer de Ferdinando Celine, Morte a
Crédito, Auto de Fé; James Joyce, Julio Cortázar, Augusto
dos Anjos, Bukowski... Se continuasse essa visita literária, a lista seria
muito longa... De certa forma, poderia narrar a história de minha vida, através
dos livros que li... Isso porque, desde
que li O Pequeno Príncipe, Meu pé de Laranja Lima, quase tudo de
Monteiro Lobato, aos 15, Olhai os Lírios
dos Campos, aos 17, até os dias de hoje, sempre que algo marca minha vida,
encontra-se associado ao universo dos livros, seja um livro que li, que estou
lendo, ou lerei. Desde que dobrei a minha primeira década, não mais abandonei
os livros. Dias e livros vão se somando em mim, envelhecendo-me na contagem das
páginas dos mundos que li.
Não
posso negar, o meu fio de Ariadne foram os livros. Foi com a ajuda deles que
encontrei a saída para todos os labirintos que a vida foi me apresentando. Não
seria de grande esforço, identificar um livro – às vezes mais de um – ao qual
recorri em busca de um socorro existencial. Entretanto, não posso deixar de
eleger dois autores que tiveram a mais profunda influência nas escolhas
ontológicas que a vida me levou a fazer: Descartes e Sartre. Por um mero acaso,
movido unicamente pela curiosidade,
esses dois autores/livros tocaram a minha alma. Ambos são de Filosofia,
mas, só mais tarde, bem mais tarde, faria essa descoberta. Até aqui, andava
entre os livros, como se estivesse no
meio de uma floresta, perdido, cercado de árvores, sem saber qual direção
tomar. As escolhas literárias eram desprovidas de qualquer regra racional que
as justificassem. Em relação ao mundo dos livros, comportava-me
como aquele que experimenta o sabor de cada fruta, antes de tomar uma, saboreá-la e devorá-la por inteiro. Todos os livros que eu li
tiveram grande importância em minha
vida, foram pequenos tijolos que utilizei na construção de uma obra sobre a
qual sabemos quando começa, mas jamais
saberemos como irá se concluir. De todos
os livros que li, indicarei apenas dois – pela brevidade deste texto –, mostrando como eles se
tornaram responsáveis pelas melhores escolhas – também, as mais sofridas – que fiz nesta vida. O
primeiro foi A Náusea, de Sartre; o
segundo, Obra Escolhida, de
Descartes, uma obra que reune três obras: Discurso
do Método, As Meditações, Paixões da Alma.
Assim, de forma irritante, Sartre
apareceu em minha vida... lá se vão muitos
anos. Tinha eu menos de 20. Sobre a vida, portava muitas dúvidas e quase nenhuma certeza. Um dia, por um acaso – já não me lembro qual –, esse livro, A Náusea, caiu em minhas
mãos. Comecei a lê-lo. Com grande desconforto
d’alma, descobri que eu era
incapaz de decifrá-lo. Era como se o texto estivesse a me dizer: feche-me, você não é capaz de decifrar-me, não é capaz de
percorrer, e sobreviver, aos meus labirintos conceituais. Em minha infância intelectual, perguntava-me:
como é possível
alguém escrever um livro que eu não consiga entender? De certa forma, cheguei a Sartre por um desvio, não pela sedução de
seu pensamento existencial, tão em moda
à época, mas pelo triste constatação: eu não era capaz de compreendê-lo, meu território conceitual não o alcançava, era-me impossível dar conta daquele drama existencial, “sem sentido”, que Antoine
Roquentin, o historiador, me apresentava. Essa relação tensa, entre mim e o livro, que eu tentava
decifrar, abalou-me profundamente, poderia dizer que teve um efeito devastador
sobre a minha alma. Naquele momento, olhando para o livro, olhava para mim
mesmo e perguntava-me: e agora? O que vai fazer? Vai fechar o livro e seguir adiante ou vai enfrentá-lo? Estava em
desvantagem. Era preciso encontrar uma saída. Pensei comigo mesmo: - quem
sabe, o fato de você não estar entendendo o livro, seja porque, para decifrá-lo, você precisaria de
outras ferramentas que ainda não lhes foram apresentadas? Sim, essa era uma
possibilidade real. Nesse momento, percebi que estava buscando uma alternativa
para sair desse sofrido embate, com uma certa dignidade. Não poderia permanecer onde estava. Encontrava-me
perdido, tiraram-me a minha bússola, não sabia como voltar para casa. A náusea se instalou em mim. Minha alma
nadificou-se. “Algo
me aconteceu, não posso continuar duvidando. Veio como uma doença, não como uma
certeza ordinária nem como uma evidência. Instalou-se pouco a pouco, eu me
senti estranho, algo incomodado, nada mais (…). E agora cresce” (A Náusea).
Só mais tarde, fui entender que, para decifrar aquele livro, precisaria
conhecer as bases conceituais do existencialismo sartreano. Não estava lendo
literatura, estava lendo filosofia, apresentada em forma de literatura. Poder-se-ia
dizer que esse livro inaugura o Existencialismo ateu de Sartre. Nele já se
encontram os principais conceitos que serão, mais tarde, desenvolvidos em sua
filosofia. O personagem principal buscando o sentido de sua existência. É um
enfrentamento dele consigo próprio, deparando-se com a sua contigência diante
do mundo. Tomando consciência de que nada na vida é necessário, tudo encontra-se na regência do acaso. O
homem encontra-se lançado no mundo, sem nenhuma causa que o justifique, sem nenhuma essência
que o anteceda e que o determine. Cabe a ele escolher ser o que desejar ser. O
homem torna-se o seu próprio autor. Escolhendo, escolhe-se. Jamais imaginei que
questões tão profundas estivessem naquele livro. Um livro, na maioria das vezes,
diz mais pelo que não diz do que pelo que suas linhas parecem querer revelar. O silêncio do
texto diz mais do que o texto propriamente dito. Não tinha mesmo como decifrar
aquele livro, o território da filosofia ainda me era desconhecido.
Olhando hoje, retrospectivamente, entendo esse drama
existencial que, sem o meu consentimento, acabou por ter um papel fundamental em
minha caminhada neste mundo. Se é verdade que todo processo de construção deve iniciar-se pela
descontrução, então, sem saber, estava eu no caminho certo: desconstruindo-me.
Mais tarde, através de Kafka, pude, finalmente, entender o
bem que aquele encontro me fez. Pela primeira vez, encontrava-me diante de um
bom livro: “De modo geral,
acho que devemos ler apenas os livros que nos cortam e nos ferroam. Se o livro
que estivermos lendo não nos desperta como um golpe na cabeça, para que perder
tempo lendo-o, afinal de contas? (...) Precisamos, na verdade, de livros que nos toquem como um
doloroso infortúnio, como a morte de alguém que amamos mais do que a nós
mesmos, que nos façam sentir como se tivéssemos sido expulsos do convívio para
as florestas, distantes de qualquer presença humana, como um suicídio. Um livro
tem de ser o machado que rompe o oceano congelado que habita dentro de nós”. Então, depois de ter atravesado muitos desertos, pude
perceber que o mal que aquele livro me causou foi o de melhor que ele poderia
ter feito por mim. Destruindo-me, ele me construiu. Abriu as portas para a minha futura morada.
Não aceitando o desconforto que a ideia de fracasso produzia
em minha alma, voltei várias vezes ao mesmo livro. Sem perceber, buscando
decifrar um livro, estava escolhendo o caminho que percorreria neste mundo. Tornei-me
estudante de filosofia. Decifrei esse livro. Para minha surpresa, outros livros começaram a aparecer, produzindo
em minha alma o mesmo desconforto do primeiro livro de filosofia. Percebi,
então que, se quisesse continuar tentando decifrar os enigmas que a razão nos narra, deveria continuar, por toda a vida, sendo um estudante
de filosofia.
Em relação a Descartes, um mero acaso nos apresentou. Um dia qualquer, já tocado pelo gosto da leitura, mas sem ainda saber qual rumo
tomaria na vida, passando pelo Campo Grande, um bairro do centro da cidade
de Salvador, deparei-me com uma barraca
de livros usados[i]. Com tempo livre, ali me detive, mais que comprando, visitando pessoas e mundos. Num determinado momento, um livro chamou
minha atenção, não pelo título ou
pelo autor – nem sequer sabia de quem se
tratava –, mas pelo preço,
já que se encontrava nos
limites das minhas parcas finanças. Comprei-o. O autor era
Descartes; o livro: Obra Escolhida. O tempo passou, esse livro foi esquecido entre outros
livros de minha biblioteca inicial.
Não sabia eu que, na minha mais
plena ignorância, naquele momento, em um mero encontro casual,
acabara de comprar um livro que teria o mais profundo
impacto em minha vida. Mais tarde, já influenciado pelo fato de
gostar de ler, fui seduzido pela Filosofia. Nela me formei. Nesse momento, comecei a descobrir a importância daquele livro que se encontrava esquecido num canto qualquer da estante. Tornei-me professor.
Chegou a hora de seguir a carreira acadêmica. Lá vem o Mestrado, lá vem o
Doutorado. Qual será o autor que conduzirá esses projetos filosóficos? Acreditem, será Descartes. Qual livro, em língua portuguesa, claro, servirá como base de sustentação a esses projetos filosóficos? Obra Escolhida. Sim, o mesmo livro, que, um dia qualquer,
sem saber bem o que ele significava, sem saber qual era a sua importância para
a cultura ocidental, tornou-se o fundamento de minha
dissertação de Mestrado e de minha tese de Doutorado. São os acasos a conduzir
nossas vidas... que bom que um dia eu passei pelo Campo Grande, encontrei
Descartes e, com ele, entre sabores e dores, fiz uma longa caminhada nesta
vida.....
Os
caminhos da vida são terras desconhecidas, nunca saberemos aonde eles vão dar.
Isso pouco importa, o importante não é chegar, e sim continuar a caminhada, na
certeza de que, enquanto caminhamos, não estamos sendo infelizes. Essa é a única
garantia que temos, o prazer do hoje. Sim, mas alguém poderia dizer que todas
as nossas escolhas implicam um futuro. Verdade, sempre estamos escolhendo o
nosso futuro. Se assim o é, então a regra é esta: escolha bem o seu futuro,
dessa forma você vai sendo feliz enquanto vai preparando a chegada dele. Eu,
por um mero acaso existencial, escolhi os livros. Não sei aonde e nem por onde eles
irão me levar. Isso pouco interessa. O que vale mesmo é ter a certeza de que,
enquanto estou convivendo com eles, ainda não fui visitado pela infelicidade. Não
posso negar que o livro, aos pouco, foi me des-contruindo, afetando a minha
alma de forma violenta, impondo-me uma nadificação existencial. Em seguida, sem
que eu desse por mim, uma metamorfose estava se processando em minha carne, o
livro foi me re-construindo, abrindo novas perspectivas para o meu olhar. Com
os livros fui resgatado dos sem tudo. Com eles comecei uma longa viagem em
busca de conhecer e conquistar um mundo desconhecido que existia dentro de mim,
preparando-me para ir em busca dos
mundos desconhecidos que existem fora de mim.
[i]
A foto que ilustra este texto, é exatamente da barraca onde se deu o meu
primeiro encontro com Descartes. Foto de Maria Vitória
1 Comments
Aproveite amigo. Recordar é bom. Faz bem a alma. O primeiro encontro com a filosofia a gente não esquece.
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