MÃE MENINAZINHA
janeiro 31, 2025Prof. Dr. Joceval BitrencourtMÃE MENINAZINHA
Ainda
na minha juventude, trabalhando no Mosteiro de São Bento da Bahia, sentia muito
orgulho de ver a amizade entre Dom Timóteo Amoroso Anastácio, abade daquele
Mosteiro, e a mais famosa sacerdotisa do candomblé da Bahia, Mãe Menininha do
Gantois. Era uma amizade ecumênica, onde, cada um, com a sua religião,
respeitava, sem nenhum preconceito, a religião do outro, compartilhando entre
eles os afetos generosos da amizade. Ele sempre a visitava no Gantois; ela, por
sua vez, o visitava no Mosteiro. O aniversário da sacerdotisa era sempre
celebrado com uma missa no Mosteiro, Dom Timóteo fazia questão de ser o
celebrante.
Nos
tempos de intolerância que vivemos, a amizade, entre essas duas almas de luz
tem muito a nos ensinar. Sou um ateu confesso, mas nunca me neguei a comer do
pão de todas as religiões. Acabo acolhendo as religiões, não como um espaço de
devoção, à qual devo prestar culto, mas como um território de cultura cuja
convivência amplia o meu olhar sobre a beleza das diversidades das
manifestações do espírito humano.
No
último fim de semana, tive a alegria de conviver, por dois dias, com uma
importante sacerdotisa da religião afro-brasileira: Mãe Meninazinha d’Oxum,
que, apesar de ter toda a sua vida religiosa nas terras do Rio de Janeiro, São
João do Meriti, onde comanda o terreiro Ilê Omolu Oxum, encontra, na mais alta
linhagem do candomblé da Bahia, as suas raízes. De tanto encantar o Rio, o Rio
a levou para a venida: no último carnaval, tornou-se enredo da escola de samba
Unidos da Ponte.
Foram
apenas dois dias de convivência, mas o suficiente para saber que eu estava ao
lado de um Ser do Bem, que faz da sua religião um lugar onde as pessoas possam
encontrar conforto espiritual para a sua caminhada... Nada eu entendo da
religião dela; sou um leigo. Mas isso não foi motivo para que ela não me acolhesse
bem, mostrando que, para além de qualquer religião, o que realmente importa é o
respeito pela pessoa humana. Essa, de todas as religiões, é a melhor. Na
despedida, beijei a sua mão, demostrando, do meu jeito, que estava pedindo a
sua bênção.
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